Revisão médica: Drª Sylvia Hinrichsen – Infectologista

A varíola dos macacos, ou Monkeypox, é uma doença rara causada por um vírus do gênero Orthopoxvirus, que costuma estar presente em roedores. A varíola dos macacos pode ser transmitida de pessoa para pessoa, através do contato próximo e prolongado, e causar sintomas como calafrios, dor muscular e nas costas, cansaço excessivo e aparecimento de bolhas e feridas na pele, que podem coçar ou serem doloridas.

Os primeiros casos de varíola dos macacos, ou varíola símia, foram identificados em 1958 em um grupo de macacos, o que deu origem ao nome da doença, apesar de o vírus ser mais comum em roedores. Já o primeiro caso em pessoas foi identificado em 1970.

Na presença de sinais e sintomas indicativos de varíola dos macacos, é importante ir ao hospital para confirmar o diagnóstico, prevenir a transmissão para outras pessoas e iniciar o tratamento, que geralmente inclui o uso de remédios para aliviar os sintomas.

Conheça mais sobre a varíola dos macacos no vídeo a seguir:

 

 

Sintomas da varíola dos macacos

Os primeiros sintomas da varíola dos macacos são:

  • Bolhas e feridas na pele, que coçam e doem;
  • Febre;
  • Calafrios;
  • Dor de cabeça;
  • Dor muscular;
  • Cansaço excessivo,
  • Dor nas costas.

Estes sintomas costumam surgir cerca de 5 a 21 dias após o contato com o vírus, e duram entre 14 a 21 dias. As bolhas costumam surgir primeiro no rosto e mucosa oral, espalhando-se depois para o resto do corpo e atingindo, principalmente, as extremidades, como a palma das mãos. Em alguns casos, pode também surgir bolhas e feridas na região genital, além de inchaço no pênis e dor na região anal.

Mais raramente, é possível evoluir para um quadro mais grave da Monkeypox dependendo da forma de transmissão, estado imunológico da pessoa e a quantidade de vírus que foi inoculado. Nesses casos, pode haver comprometimento pulmonar ou inflamação do cérebro, chamada de encefalite.

Como acontece a transmissão

A Monkeypox pode se transmitida de pessoa para pessoa por meio do contato com secreções respiratórias que são liberadas ao tossir ou falar por exemplo, mas para que o vírus consiga ser transmitido dessa forma, é preciso que as pessoas estejam muito próximas durante muito tempo.

Além disso, a transmissão também pode acontecer por meio do contato direto com as secreções das bolhas e feridas causadas pelo vírus da varíola dos macacos, ou por meio do contato com objetos contaminados, incluindo toalhas e roupa de cama. A presença de lesões na região genital também aumenta o risco de transmissão da varíola dos macacos através da relação sexual.

A transmissão de pessoa para pessoa acontece desde o início dos sintomas até a cicatrização das lesões e formação de nova pele. Além disso, é possível haver transmissão da mulher para o bebê através da placenta.

A transmissão desse tipo de varíola de animais para pessoas também pode acontecer, sendo possível através da mordida de roedores infectados, consumo de carne mal cozida de animais infectados e/ou contato com secreções ou sangue de animais infectados.

Como é feito o diagnóstico

O diagnóstico da varíola dos macacos pode ser feito pelo infectologista ou clínico geral por meio da avaliação do histórico de saúde e sintomas apresentados. A confirmação da Monkeypox acontece por meio do exame RT-PCR, que é feito com uma amostra da secreção da ferida ou da crosta da ferida. Através desse exame é possível confirmar a presença do vírus responsável pela doença.

O caso provável de Monkeypox é considerado quando a pessoa apresenta sintomas, teve contato próximo com uma pessoa com varíola dos macacos ou com sintomas sugestivos e que ainda não tiveram o resultado do exame de RT-PCR.

No caso da pessoa apresentar sintomas sugestivos de varíola dos macacos, mas o resultado do exame é negativo, são indicados outros exames complementares para identificar o agente responsável pelos sintomas e, assim, ser possível iniciar o tratamento mais adequado.

Diagnóstico diferencial

A tabela a seguir contém algumas características que ajudam a diferenciar as bolhas e lesões da varíola dos macacos de outros problemas na pele:

Características Coceira Cor do líquido Local
Varíola dos macacos Caroços vermelhos e que aumentam de tamanho. Com o tempo, as lesões secam e formam uma casca. Sim Esbranquiçado, parecido com pus Rosto e boca, podendo se espalhar por todo o corpo, principalmente extremidades
Herpes zóster Bolhas vermelhas e de tamanhos diferentes Sim Transparente Tórax e barriga, principalmente, em apenas um lado do corpo
Sífilis Pequenas feridas ou caroços Não Transparente Região genital, ânus e boca
Catapora/varicela Caroços vermelhos que dão origem a pequenas bolhas com líquido. Após rompimento, há formação de ferida com casca Sim Transparente, ficando mais escuro com o passar dos dias Peito, costas e rosto, podendo se espalhar por todo o corpo
Linfogranuloma venéreo Bolha pequena que pode aumentar de tamanho e feridas, e alguns casos Não Esbranquiçado, parecido com pus Região genital
Molusco contagioso Pequenas bolhas isoladas ou em grupos Sim Não tem Em qualquer região do corpo, com exceção da palma das mãos e planta dos pés
Alergia na pele Pequenos caroços brancos ou avermelhados Sim Transparente, podendo não ter líquido, em alguns casos Em qualquer região do corpo
Impetigo Semelhantes a espinhas. Após rompimento, há formação de ferida com crosta Sim Esbranquiçado, parecido com pus Nariz, boca, pernas, pés, peito e barriga.

Para melhor diferenciar as causas das lesões, é recomendado sempre passar por uma consulta com um médico, que vai avaliar os sinais e sintomas apresentados pela pessoa, além de observar o tipo e o local das lesões.

Como é feito o tratamento

Normalmente não é necessário realizar tratamento específico para a varíola dos macacos, já que os sintomas da doença costumam desaparecer após algumas semanas. No entanto, em alguns casos, o médico pode indicar o uso de medicamentos para aliviar os sintomas mais rapidamente. É também importante que a pessoa fique em isolamento para evitar a transmissão da doença para outras pessoas, podendo ser necessário, em alguns casos, que a pessoa permaneça no hospital para ser monitorada.

Até o momento não existe medicamento aprovado no Brasil para o tratamento da varíola dos macacos, porém alguns antivirais apresentam atividade contra o vírus da varíola dos macacos, como brincidofovir, cidofovir e tecovirimat. O tecovirimat foi aprovado pela Agência Europeia de Medicamentos e pelo FDA.

Remédio para Monkeypox no Brasil

No Brasil, apesar de não estar aprovado, a Anvisa autorizou o uso compassivo de medicamentos em fevereiro de 2022, como o tecovirimat, o que significa que o medicamento pode ser utilizado quando a pessoa apresenta doença grave, não existe medicamento autorizado no país para combater a doença e há benefícios relacionado com o uso do medicamento.

Dessa forma o tecovirimat poderia ser indicado quando a pessoa está internada, possui RT-PCR positivo para o vírus da varíola dos macacos e apresenta a forma mais grave da doença com pelo menos um dos sintomas:

  • Inflamação do cérebro (encefalite);
  • Pneumonite;
  • Mais de 200 lesões pelo corpo;
  • Grande lesão na boca, o que interfere na hidratação e alimentação;
  • Lesões externas na mucosa anal e retal, podendo haver risco aumentado de infecção secundária;
  • Lesão ocular.

Esse medicamento não deve ser usado por pessoas que tenham menos de 13 kg, possuem alergia ao tecovirimat ou a qualquer outro componente da fórmula e que não aceitaram o termo de consentimento para o uso do medicamento.

A varíola dos macacos tem cura?

A varíola dos macacos tem cura e, de forma geral, não é necessário tratamento específico, já que o vírus costuma ser eliminado pelo próprio sistema imunológico depois de cerca de 4 semanas. No entanto, em alguns casos, para acelerar a cura, o médico pode indicar o uso de medicamentos específicos para combater o vírus.

Como prevenir

Para prevenir a varíola dos macacos, é recomendado:

  • Evitar o contato próximo com pessoas diagnosticadas com varíola dos macacos;
  • Evitar tocar nas bolhas ou entrar em contato com a roupa, roupa de cama, toalha e objetos de uso pessoal de pessoas que possuem sinais e sintomas de varíola dos macacos;
  • Desinfetar e lavar bem as mãos com água e sabão;
  • Usar máscaras de proteção.

Além disso, como a doença também pode ser transmitida de animais para pessoas, apesar de raro, é recomendado consumir apenas carnes que foram bem cozidas e evitar o contato com animais silvestres, principalmente roedores, já que podem estar infectados com o vírus da varíola dos macacos ou outros agentes infecciosos.

Vacina da varíola dos macacos

A prevenção da doença também pode ser feita através da vacina. De acordo com a Organização Mundial de Saúde a vacinação em massa para varíola dos macacos não é possível, já que não existe quantidade suficiente de vacina para toda a população.

Atualmente, as vacinas existentes e que estão aprovadas nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e/ ou na Europa são:

  • Jynneos/ Imvamune/ Imvanex, que é indicada em 2 doses, com intervalo de 4 semanas entre as doses. Essa vacina também pode ser administradas 4 dias após o contato com o vírus, sendo nesses casos recomendada apenas 1 dose. Além disso, caso a vacina seja administrada 5 a 14 dias após a infecção, é possível reduzir os sintomas, mas não evitar o desenvolvimento da doença;
  • ACAM2000, que é indicada em dose única, não sendo recomendada para pessoas que possuem o sistema imunológico mais fraco, dermatite atópica, eczema, doenças cardíacas e nos olhos, além de também não ser indicado para mulheres grávidas.

Essas vacinas, no entanto, não são recomendadas para todas as pessoas, sendo apenas indicado recomendado para pessoas com risco de exposição ao vírus, incluindo trabalhadores da saúde com risco de exposição, pessoas que trabalham em laboratório ou em pesquisas com o Orthopoxvirus, pessoas que realizam testes laboratoriais para esse vírus.

Além disso, ainda não se sabe a eficácia dessas vacinas no surto atual de varíola dos macacos e, por isso, mesmo que tenha sido administrada a vacina é importante manter os cuidados da prevenção.

 

Fonte: tuasaude.com